terça-feira, 8 de julho de 2008

Cachaças



Oito cachaças brasileiras foram classificadas na categoria “White Spirits” (mesma da vodca, tequila, gim e rum) no “San Francisco World Spirits Competition”, um dos concursos mais importantes do setor de destilados nos EUA. Em sua 4ª edição, realizada em 12 e 13 mar. 2005, o evento classificou 589 bebidas, de 43 países.
A cachaça “Rochinha”, envelhecida por 5 anos, produzida desde 1902 em Barra Mansa (RJ), ganhou um duplo ouro. A cachaça “GRM”, envelhecida por 2 anos, produzida desde 2002 em Minas Gerais, destacou-se com medalha de ouro (o mesmo prêmio da vodca “Wyborowa”). A “Água Luca” e a “Beleza” receberam medalha de prata, e as “Fazenda Mãe de Ouro”, “Safári”, “Toucano Gold” e “Ypioca Ouro” ganharam medalha de bronze.
A produção anual de cachaça gira em torno de 1,3 bilhão de litros, mas apenas 8,6 milhões são exportados. A GRM destina 80% de sua produção para exportação, diz Michele Araújo, sócia (Folha de S. Paulo, São Paulo, 31 mar. 2005, p. E11).
Criado em 1997, a Associação Brasileira de Bebidas (ABRABE), coordenadora do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC), vem lutando em prol da valorização mercadológica da cachaça e da ampliação de suas exportações.
O Decreto Federal nº 4.062, de 2001, reservou aos produtores sediados no Brasil o uso privativo da expressão cachaça. O Decreto Federal nº 4.851, de 2003, aprovou os padrões técnicos das bebidas cachaça, caipirinha e rum. A Organização Mundial de Aduanas (OMA) reconheceu a aguardente de cana como bebida distinta do rum, para fins de classificação aduaneira do produto mundialmente.
A ABRABE agora envida esforços para a realização, por parte da EMBRAPA, de estudos científicos para a padronização qualitativa (químico-física e sensorial) da cachaça, após os quais caberia ao governo regular o sistema das “Denominações Geográficas de Origem (DOCs)”, em harmonia com os princípios internacionais. Após essas providências, a ABRABE sugere a implantação do controle de qualidade da cachaça, por meio da fiscalização de sua produção e de seu comércio. A idéia é essa fiscalização ser exercida por órgão (Instituto Nacional da Cachaça, em fase de criação) credenciado pelo Ministério da Agricultura.


Definição


Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38% a 48% em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose.
A cachaça contendo açúcares em quantidade superior a seis e inferior a trinta gramas por litro será denominada cachaça adoçada.
Será denominada de cachaça envelhecida a bebida contendo no mínimo 50% de aguardente de cana envelhecida, por um período não inferior a um ano, podendo ser adicionada de caramelo para a correção da cor.
O nome “cachaça”, vocábulo de origem e uso exclusivamente brasileiros, constitui indicação geográfica para os efeitos, no comércio internacional, do artigo 22 do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio, aprovado, como parte integrante do Acordo de Marraqueche, pelo Decreto Legislativo nº 30, de 15 dez. 1994, e promulgado pelo Decreto nº 1.355, de 30 dez. 1994.
O uso das expressões protegidas “cachaça”, “Brasil” e “cachaça do Brasil” é restrito aos produtores estabelecidos no Brasil, na forma do Decreto Federal nº 4.062, de 21 dez. 2001.


Ranking


As cachaças de alambique são elaboradas em alambiques de cobre, observadas as seguintes características: cana colhida de forma manual; processo de fermentação de 15 a 30 horas; no processo de destilação, a primeira fração e a última, ambas de 10%, são eliminadas (formam as partes ruins do álcool, provocadoras da ressaca e dor de cabeça); só 80% do volume destilado é aproveitado na boa cachaça. Envelhecidas ou não em tonéis de madeira, as cachaças de alambique têm mais riqueza de aromas e podem ser apreciadas puras. São as melhores cachaças de alambique: Samba & Cana, 1º; Vale Verde, 2º, Reserva do Gerente, 3º; Velho Pescador, 4º; Volúpia e Maré Alta, 5º; Abaíra, 6º; Armazém Vieira Esmeralda, 7º; Seleta, 8º; Germana, 9º; Atitude, 10º; Salinas, 11º (Playboy, São Paulo: Abril, n. 337, ago. 2003, p.93).
As aguardentes de cana, produzidas pelas grandes indústrias, são elaboradas com cana colhida por meio de máquina e o processo de fermentação é de apenas seis horas. O processo industrial tem melhor rendimento e cada tonelada de cana é transmudada em 170 litros de bebida. No alambique, a mesma tonelada rende 80 litros de cachaça. São as melhores aguardentes de cana: Caninha 21, 1º; Oncinha, 2º; Caninha 51, 3º; Ypióca, 4º; Vila Velha, 5º; Pitu, 6º; Caninha da Roça, 7º; Jamel, 8º; Velho Barreiro, 9º; Caninha 61, 10º (id.).
As cachaças “premium” recebem o mesmo tratamento dado aos bons vinhos. A produção é limitada e os passos de fabricação são controlados. São as melhores cachaças premium: Gosto Requintado Mundial (GRM) e Piragibana, 1º; Armazém Vieira Ônix, 2º; Germana, 3º; Anísio Santiago, 4º; Alambique de Barro, 5º (id.).
Na avaliação das bebidas, foram pontuadas as características visuais (densidade, oleosidade, transparência e limpidez), olfativas (qualidade, intensidade e persistência) e gustativas de cada amostra. Uma amostra turva indica defeito na fabricação. A densidade das lágrimas, formadoras de um colar no copo, assegura a qualidade. O aroma e o gosto alcoólico não devem ser acentuados, assim como a acidez, amargor e adstringência não devem agredir a boca. A qualidade da bebida também é avaliada pelo tempo de sabor na boca, sem causar sensação desagradável de ardência. O equilíbrio e harmonia em todos os aspectos garantem bom resultado na avaliação (id.).


Regras


A primeira regra para distinguir uma boa cachaça é aguçar a visão, ensina Engels Maciel, engenheiro aposentado e dono de alambique. Deve-se reparar na cor, na limpidez e na transparência. Se o resultado agradar, continue. Com a bebida no copo, avalie o buquê. Se sentir a mucosa nasal irritada e os olhos ardendo, recuse. Tome um gole pequeno, deixe o líquido rolar na boca antes de engolir. Se queimar a mucosa da boca e os lábios, é muito nova, com menos de 6 meses de amadurecimento. Depois de tomar o gole, fique atento a sinais negativos, como gosto de coisa queimada. Se a cachaça desce raspando na garganta, deve esconder outros pecados. Mas, se o sabor agradar, se delicie. A ressaca, no dia seguinte, é sinal para esquecer a marca consumida (Playboy, São Paulo, n. 353, dez. 2004, p. 99).
O Brasil produz 1,3 bilhão de litros de cachaça por ano, mas só 1% desse total é exportado. A Alemanha é o destino de 30% dos embarques. Em seguida, vêm a França, Itália, Portugal, Inglaterra, Espanha, EUA, Chile e Canadá. Até 2010, as vendas externas deverão alcançar 42 milhões de litros, conforme projeta a Associação Brasileira de Bebidas – ABRAVE (id.).
O bar “Upstairs Bar & Lounge”, do hotel Grand Hyatt, em São Paulo, especializou-se em cachaça. Sua carta inclui 90 marcas e os preços de uma dose variam de R$ 5 a R$ 25. As pessoas ainda não sabem direito beber cachaça, mas, quando alguém orienta, ficam apaixonadas, afirma Beatriz Pernambuco, gerente do bar (id.).
A Tonel & Pinga, com sede em Niterói (RJ), oferece mais de 750 marcas nas prateleiras, dentre as quais a Dona Beja, envelhecida 30 anos, de R$ 900,00 (id.).
O fazendeiro Anísio Santiago, de Salinas, no vale do Itacambira, norte de Minas Gerais, começou nos anos 50 a produzir em seu pequeno canavial a cachaça Havana. O sucesso atraiu outros produtores. Hoje, as cachaças de rótulos “made in Salinas” são as mais procuradas em bares especializados (id.).


Capirinha


Caipirinha é a bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de 15% a 36% em volume, a vinte graus Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar. O limão poderá ser adicionado na forma desidratada.


Mandamentos


Os seis mandamentos da boa cachaça: 1) não resseca a boca nem queima a garganta; 2) seu odor tem de ser suave (cheire a cachaça ou esfregue uma pequena quantidade na palma da mão; o buquê deve ser agradável e lembrar suavemente o aroma da cana; não deixa “bafo”); 3) a bebida de qualidade, quando agitada, forma uma espuma e essa espuma deve desaparecer, no máximo, em 30 segundos; 4) despeje lentamente a bebida nas paredes do copo e observe: ela deve escorrer como um fino óleo; 5) verifique contra a luz se o líquido é transparente e não contém impurezas; 6) uma vez aberta, a garrafa deve ser mantida bem fechada para evitar a evaporação (Gazeta Mercantil, São Paulo, 18 maio 2005, p. B-14).


Mercado mundial



O mercado mundial movimenta US$ 15 bilhões por ano em bebidas. As exportações brasileiras somam apenas US$ 8,5 milhões. A tequila mexicana gera vendas externas no valor de US$ 100 milhões e o “whisky” escocês, US$ 3,8 bilhões (id.).


História


A cachaça surgiu nos antigos engenhos de açúcar no tempo da colonização portuguesa. O refugo da produção era dado aos animais e aos escravos. Após deixar a borra do melaço de cana fermentar por alguns dias, os escravos extraíam a aguardente. De meados do século XVI à metade do século XVII, a produção se multiplicou nos engenhos e a cachaça tornou-se moeda corrente para a compra de escravos na África (id.).


Ranking Playboy da Cachaça - 2007


As 20 melhores aguardentes do Brasil, de acordo com o ´Ranking Playboy da Cachaça´, formado por um júri composto de 13 ´experts´ (Playboy, São Paulo: Abril, abr. 2007, p. 91):

1) Vale Verde, Betim (MG), 40% de graduação alcoólica, 3 anos de envelhecimento;

2) Anísio Santiago, Salinas (MG), 44,8%, 6 a 8 anos;

3) Canarinha, Salinas (MG), 44%, 3 anos;

4) Germana, Nova União (MG), 40%, 2 anos;

5) Claudionor, Januária (MG), 48%, 1,5 a 2 anos;

6) Boazinha, Salinas (MG), 42%, 2 anos;

7) Casa Eucco, Passo Velho (RS), 40%, 2 anos;

8) Armazém Vieira, Florianópolis (SC), 44%, 4 anos;

9) Magnífica, Miguel Pereira (RJ), 45%, 3 anos;

10) Piragibana, Salinas (MG), 47%, 22 anos;

11) Maria Izabel, Parati (RJ), 42%, 1 a 4 anos;

12) Indaiazinha, Salinas (MG), 48%, 8 anos;

13) Sapucaia Velha, Pindamonhangaba (SP), 40,5%, 10 anos;

14) Corisco, Parati (RJ), 45%, 2 anos;

15) Mato Dentro, São Luiz do Paraitinga (SP), 41%, 8 meses;

16) Lua Cheia, Salinas (MG), 45%, 2 a 3 anos;

17) Abaíra, Chapada Diamantina (BA), 42%, 3 anos;

18) Seleta, Salinas (MG), 42%, 2 anos;

19) GRM, Araguari (MG), 41%, 2 anos;

20) Volúpia, Alagoa Grande (PB), 42%, 1 ano.


O Brasil tem mais de 5 mil marcas de cachaças legalizadas. A produção é de cerca de 1,4 bilhão de litros por ano. As cachaças industriais privilegiam a quantidade, enquanto as cachaças artesanais, a qualidade. A cana-de-açúcar e o terreno interferem mais na produtividade. Já a fermentação é fundamental para a qualidade. Quando a cachaça segue para ser envelhecida, o tipo da madeira utilizada, o tamanho e a idade do barril fazem bastante diferença. O amendoim e o jequitibá são madeiras neutras e pouco interferem na bebida. A umburana dá um sabor forte e apurado. O bálsamo, também responsável por uma cor bem amarelada, garante um sabor mais forte, áspero até.

O carvalho, a madeira mais utilizada, dá coloração mais escura e empresta aromas de ´´ whisky´ e de ´brandy´. A madeira mais jovem exerce mais influência na bebida. Barris menores também. Assim, uma cachaça só é considerada envelhecida se ficar em barris com capacidade para até 700 litros. Em barris maiores, a cachaça é considerada descansada.

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